Zenaide de Campos nasceu no dia 15 de julho de 1951 na cidade de Tietê, interior de São Paulo, e mudou-se para a cidade de Campina do Monte Alegre, também no interior do estado, no ano de 1977 com o seu esposo Ari e seus 5 filhos (3 mulheres e 2 homens).

Trabalhava como caminhoneira e amava praticar futebol, tanto que fazia parte do time de futebol feminino da cidade.

Em 1989, aos 39 anos de idade, jovem, cabelos pretos, olhos azuis, cheia de vida, com muitos sonhos. Zenaide iniciaria sua maior batalha. Tudo começou com um incomodo na boca, na gengiva.

Acreditando que seria algo relacionado a algum problema odontológico, a mesma procurou um dentista, que inicialmente orientou que ela suspendesse o uso da dentadura, já que a mesma poderia estar machucando a gengiva e causando o incomodo.

No mesmo período, Zenaide descobriu que estava grávida do seu sexto filho, ela e sua família se alegraram com a notícia da chegada de um bebê. Porém, os incômodos na gengiva persistiam. E diante da falta de recursos para realização de consultas e exames, um encaminhamento prescrito pelo dentista auxiliou para que o processo fosse agilizado.

Foram dias de muita angustia e ansiedade vividos por ela e sua família, até que o diagnóstico fosse determinado. Câncer na mandíbula.

O tratamento deveria ser iniciado urgentemente, porém diante da gravidez, Zenaide teria que fazer uma escolha, pois os procedimentos para combater à doença seriam agressivos, o que colocaria em risco a vida da mãe e do feto. Sendo assim, ela teria que escolher, dar continuidade a tão desejada gravidez, ou iniciar os tratamentos que combateriam o câncer.

Foi então, que ela decidiu prosseguir com a gestação, e para poupar o feto de qualquer risco, ela adiou o seu tratamento até que a criança nascesse.

Foram meses de dores, preocupação, e muita ansiedade, até que no dia 08 de abril de 1990, veio ao mundo sua filha, Ariane, linda e saudável.

Durante o período de gestação, a doença progrediu agressivamente, causando uma grande lesão em seu rosto. Mas ela sempre permaneceu forte, nunca reclamou ou blasfemou, pelo contrário, seguia acalmando e encorajando a todos a sua volta.

Devido ao seu estado de saúde, ela não pôde amamentar sua filha, pois logo após o parto, os tratamentos contra o câncer foram iniciados em caráter de urgência.

Os procedimentos seriam realizados na cidade de Sorocaba, São Paulo, aproximadamente 120 km de Campina Do Monte Alegre, onde residia, e devido a logística, Zenaide ficou hospedada na casa de uma irmã, em Porto Feliz, cidade próxima ao hospital onde ela se trataria.

Sua filha Ariane, ainda recém nascida, ficou sob cuidados da filha mais velha, Heloisa, e de uma tia, Ana Campos, que auxiliava nos cuidados da bebê e se fez presente nessa fase tão difícil que a família enfrentou, ajudando e dedicando seu tempo e amor.

Mesmo após meses de tratamentos, sessões de radioterapia e quimioterapia, o processo não estava tendo resultados eficazes contra a doença, sendo a cirurgia a última opção para impedir que a doença progredisse.

Foi então, que em 1995, Zenaide de Campos passou pela primeira cirurgia, na qual parte de sua mandíbula, comprometida pelo câncer, seria retirada. Após a cirurgia, ela permaneceu mais 60 dia internada, sendo 40 deles na UTI.

Segundo os médicos, a chance de remissão eram mínimas, mas Zenaide resistiu, se recuperou e retornou para a sua casa. Continuou realizando visitas periódicas aos médicos, mas já habilitada a reestabelecer sua vida.

Assim que melhorou, Zenaide retomou uma das suas principais atividades, ajudar o próximo.

Sempre envolvida e projetos sociais, eventos para arrecadação e distribuição de alimentos a famílias menos favorecidas e confeccionando salgados para vendas para programas em prol da comunidade.

Ela que apenas havia completado o ensino fundamental, trazia consigo um sonho antigo: ser professora.

Iniciou os estudos, junto com a sua filha mais velha, e em 2005, se formou no magistério, realizando seu grande sonho.

Infelizmente, na mesma época, Zenaide recebeu o diagnóstico de que o câncer havia retornado. O que a impediu de exercer a tão sonhada profissão.

Dessa vez, a enfermidade era debaixo da língua e considerando que ela já havia realizado sessões de quimioterapia e radioterapia, sem sucesso, os mesmos não eram uma opção.

Então, ela teria, novamente, que passar por um procedimento cirúrgico.

Sem recursos, Zenaide teve que esperar que a cirurgia pudesse ser realizada pelo sistema público, o que só ocorreu após a espera de um ano. O período de aguardo fez com que a doença se agravasse.

Já na mesa de cirurgia, e anestesiada, os médicos constataram que a sua língua estava totalmente comprometida pelo câncer, sendo a retirada do membro a única opção para tentar combater a doença. Porém, somente Zenaide, junto de seus familiares, poderiam tomar tão difícil decisão, pois segundo os médicos, após esse procedimento, ela nunca mais poderia consumir alimentos sólidos via oral e teria sua fala comprometida.

Retirada da sedação, Zenaide e sua família, foram informados sobre a situação, e mais uma vez a angustia e o desespero tomaram conta da família, porém ela, seguia forte, serena e corajosa, autorizando que os médicos seguissem com a retirada da parte comprometida pelo câncer.

A intervenção cirúrgica foi realizada em 2006, e ela permaneceu internada por mais 45 dias, período pós cirúrgico.

Sua recuperação foi lenta e dolorosa, um novo capítulo de sua vida se iniciava, e dessa vez ainda mais desafiador. Não conseguia falar, se comunicava só através de mimica e olhares.

Alimentava-se por sonda de um suplemento fornecido pelo próprio hospital, mas nada sólido ou pela boca.

Mais uma vez, Zenaide demonstrou sua força, persistência e resiliência. Optou por retirar a sonda, e começou a balbuciar algumas palavras, com muita dificuldade, mas com perseverança.

Assim como ela, as pessoas ao seu redor, familiares e amigos, aprenderam com ela uma nova forma de se comunicar.

Durante 9 anos da sua vida, Zenaide ficou sem consumir alimentos sólidos, se alimentando somente de líquidos.

Nesse mesmo período, ela seguiu servindo a comunidade ativamente.

No ano de 2014, mais uma vez o destino testaria Zenaide, com algo que talvez tenha sido ainda mais doloroso do que a doença que enfrentara anteriormente. Um de seus 6 filhos se suicidou, Otacílio, aos 40 anos de idade, vítima de depressão profunda causada pelo uso de drogas ilícitas.

Enquanto muitos não aceitavam ou compreendiam aquela situação, mais uma vez ela se fez rocha, não blasfemou ou questionou a Deus, a quem tanto confiava a sua vida. Ela fortalecia a todos que chegavam até ela na intenção de consola-la. E uma vez mais, entregou parte de si.

Mesmo diante de tantas provações, ela nunca desistiu de viver, e sempre dizia que a doença jamais a venceria, e de fato, não a venceu.

No dia 18 de junho de 2015, Zenaide de Campos acordou pela manhã, tomou banho, penteou seus longos cabelos pretos e se perfumou. No mesmo dia faleceu por consequência de um infarto. E fez sua passagem, serena.